quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

CULTO DA BELEZA

Cláudia Vieira

Vivemos num tempo mais ou menos ensandecido.
Não que a noção de loucura nos atropele em pleno passeio, mas que há um certo ar de descontrole, isso parece-me factual.
Um dos sinais deste mundo deslizante entre a virtude e o temor, é a obsessão pela beleza, pela fama e pelos holofotes da exposição.
Se a "coisa" pelo lado do mundo da moda até se compreende e é mais ou menos sucedâneo da sua história, o fenómeno, por exemplo no que toca ao futebol, já é dado a maiores e mais susceptíveis interpretações.
Lembro-me do tempo em que os jogadores de futebol eram manifestamente feios, com grandes bigodes ou barbas mal aparadas, todos parecidos com iranianos ou turcos em potência, como se tivessem saído de uma linha de montagem humana. Não ligavam duas frases, bocejavam trivialidades (como aliás ainda fazem - com raras mas honradas excepções...) e não tinham os autocarros de mulheres e jornalistas a morderem-lhes os calcanhares... E talvez jogassem mais futebol, já agora.
O exemplo de Cristiano Ronaldo é paradigmático, não sendo, obviamente único. Não há semana que não apareça em revistas, não de futebol, mas de tricas e futilidades, de televisão ou de consultórios sexuais e afins.
À sua volta já gravita uma boa mão cheia de dependentes, alguns deles com instintos algo necrófagos, mas todos eles encorpando a ideia de que ali, muito para além do jogador de futebol, está alguém cuja vida pública e privada dá alimento a muita gente.
É uma doentia teia de interdependências e interesses que conspurcam os arredores e o miolo do futebol, que deixou há já algum tempo de ser um desporto, para ser algo mais ou menos indefinível...
Voltando ao culto da beleza, lamento pelo senhor (ou menino) Cristiano Ronaldo, mas acho, por exemplo, a Cláudia Vieira infinitamente mais interessante, mais definível, mesmo sem jogar à bola, mesmo sem emitir um som!
Não é preciso.

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