No editorial deste blogue,
escrito há uns quantos meses, fiz questão de o dizer idiossincrático.
E é.
Nutro por ele uma estima e um desprezo em quantidades iguais, logicamente de geometrias opostas, pelo que me dou ao (des)prazer de nele colocar o que bem me apetece, desde palermices, a análise política (felizmente esconjurada daquela "esfera" politicamente correcta), passando por fotografias que vou obtendo nas voltas pelo mundo.
Ora, as voltas pelo mundo estão agora limitadas a uma corrida diária entre a escola e casa. Esgotam-se nas estradas que o carro devora com maior ou menor pressa. Ainda assim e na busca de gente na soleira de portas, cafés com vultos ao balcão bebericando conversas, miúdos atravessando ruas no desvario de bolas, mulheres dedilhando rosários de vida alheia, ou compadres comparando tintos em adegas, desvio-me, sempre que a higiéne mental o implora para atravessar lugares, fujo das vias rápidas, da sua pressa, do seu frio relacional, do perigo que elas transportam no seu regaço de cinzentos.
Busco aldeias, chaminés com fumos de culinária e lenhas, cães afoitos, gatos em espera de espinhas, sítios onde se respira e as árvores não pedem licenças ao betão...
Outras vezes, na falta de geografias calcorreáveis pelas rodas do carro ou pelas pernas que me amparam o peso, remeto-me à geografia larga (dada a tudo) da internet e da blogosfera em particular.
Entre muitos locais que visito regularmente, alguns assumem dianteira e deles tratarei em melhores núpcias.
Hoje, escrevo sobre dois blogues que se colocam a milhas luz deste
Ataque de Caspa... Dois blogues de "Emoções"...
O
Cidade dos Anjos e o
More than words.
Não sendo eu um admirador de toda a poesia, nestes dois casos admiro (por cima do resto) a "coragem" que os seus dois autores revelam para se "exporem" tão desnudadamente na grande rede. É que mesmo que digam que a poesia que escrevem é de simples criação, arredada do que lhes vai na alma, lá no fundo (quem sou eu para o avaliar, pois que escrevo pelo que leio) esgrimirão os seus medos, paixões perdidas, anseios reprimidos ou fantaisas cumpridas e outras desejadas.
O autor do
primeiro, que tenho o prazer de conhecer pessoalmente, surpreende pela nudez com que escreve, sendo homem, sem receio de se revelar ante a cortante transparência do que arrisca mostrar no fundo preto do seu blogue.
A
segunda, que (não sei se em boa ou má hora) decidiu seguir recentemente este errático blogue, sendo mulher, deixa escapar entre os dedos que tacteiam as teclas, uma espécie de "streaptese da alma", quase sempre em chamas de sentimento.
São duas singelas e cristalinas provas de que a blogosfera se faz entre nomes "vulgares", ignotos e sem o cortejo mediático, às vezes pegajoso e laudatório, que caracteriza os círculos de famosos.